Lutar contra moinhos de vento
Juntos, Dante Alighieri, Geoffrey Chaucer e Miguel de Cervantes são provavelmente os maiores patriarcas da literatura moderna.
Suas obras abrangem 300 anos, do início do século XIV ao início do século XVII. Representam uma ponte entre a poesia épica das culturas antigas e os modernos romances do mundo contemporâneo. Cada uma delas ajudou a consolidar o uso da palavra escrita nas respectivas línguas vernáculas. E juntas representam um inacreditável uso da narrativa ficcional para contar histórias de almas peregrinas, viajando, com suas falhas, fraquezas, ilusões e pecados, em direção à Jesus Cristo.
A Divina Comedia, de Dante, os Contos de Canterbury, de Chaucer, e o Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes, não são sempre fáceis de ler, mas valem a pena.
A Divina comédia é o relato de um peregrino que viaja através dos reinos da morte: do inferno, do purgatório e em direção à glória do paraíso. Os Contos de Canterbury contêm dezenas de histórias, contadas por um grupo de peregrinos que viajam, juntos, a um santuário.
Já Dom Quixote é uma história igualmente trágica e gloriosa. É a história de um homem que começa, com grande zelo, a realizar atos heroicos, mas que perde o sentido da realidade ao seu redor. Por exemplo, combate com moinhos de vento julgando serem gigantes saqueadores, sem jamais perceber a deplorável futilidade de seus empreendimentos. Mas Dom Quixote, à sua maneira, é um peregrino. Ele anda à procura de algo santo e grandioso. Como todos nós, suas percepções atrapalham os próprios esforços, apesar da pureza de suas intenções. Mas podemos aprender com Dom Quixote o valor da tenacidade e da fortaleza, perseguindo os mais nobres ideais, mesmo quando poderíamos ser vistos como desastrosos ou dignos de piedade.
Na obra de Chaucer, estamos expostos à realidade do ser humano —expostos às suas derrotas e às suas glórias, às suas desolações e às suas esperanças. Pela obra de Dante, somos conduzidos à glória de Deus — e à gravidade da danação e da redenção.
Dante, Chaucer e Cervantes me influenciaram profundamente. Juntos, em algum sentido, pavimentaram o caminho para o mundo moderno. Noutro sentido, eles são o antídoto ao mundo moderno — lembrando-nos de como o mundo é bom, se visto pelos olhos da fé, olhos erguidos em direção à Providência e firmemente enraizados na esperança.
(James D. Conley é bispo da diocese de Lincoln, Nebraska, EUA. Este ensaio foi publicado no National Catholic Register, em 31 de maio de 2015)
https://www.ncregister.com/images/documents/Literature_Section_053115.pdf
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