Os noivos de Alessandro Manzoni
Papa Francisco é espantosamente bem lido. Em entrevistas, ele confessou que lê os clássicos: o escritor Dostoiévski e o poeta Gerard Manley Hopkins – e faz frequentemente referências a romancistas e poetas modernos. Tem manifestado, em homilias e cartas, a importância da beleza literária. E um de seus livros favoritos, Os noivos, de Manzoni, publicado em 1825, é um dos que também muito aprecio.
Eu vivi na Itália por dez anos. Enquanto estava lá, descobri que todo italiano de formação colegial tinha lido Os noivos. A obra é um rito de passagem; e é, verdadeiramente, o romance nacional da Itália.
O livro pode, também, nos oferecer uma boa visão do coração e da mente do papa Francisco. No último ano [2014], em entrevista publicada nos EUA, papa Francisco disse: “Li três vezes Os noivos, de Manzoni, e o tenho agora em minha mesa, pois quero lê-lo de novo. Manzoni me ensinou muito. Quando era criança, minha avó me fez aprender de cor o início de Os noivos: ‘Esse braço do lago de Como, que se divide, para o sul, entre duas contínuas cadeias de montanhas…’”
Como lembra o Santo Padre, Os noivos começam com uma bela descrição do campo ao redor do lago de Como, no norte da Itália. É a história de um jovem casal, Renzo e Lucia, que vive nessa região no século XVII. Renzo e Lucia querem se casar, mas um nobre local, que deseja Lucia, faz tudo o que pode para impedir o casamento: intimida o padre da aldeia; alia-se a um sombrio vilão; conspira para arruinar os bons amigos de Renzo e Lucia; sequestra Lucia e a esconde num castelo da montanha.
Renzo, no entanto, é incapaz de resgatar Lucia. Exila-se, envolve-se num tumulto de rua e depois numa epidemia de peste. Termina verdadeiramente longe de Lucia, trabalhando sem esperanças numa fábrica, sem que seja capaz de resolver os seus problemas. Heroísmo algum, de nenhum personagem da história, consegue reunir novamente o jovem casal.
Inesperadamente, eles foram salvos por um inequívoco ato da graça de Deus. Os noivos revelam o poder da misericórdia divina para transformar corações de maneira radical. A história nos mostra como Deus pode agir — e como nossas orações e sacrifícios podem, muitas vezes, interferir na vida das outras pessoas.
Os noivos não é um romance muito popular nos Estados Unidos, mas bem que o poderia ser. Trata-se de uma extraordinária história para os nossos dias. É verdadeiramente tentador, para nós, enxergar como inimigos aqueles com quem não concordamos. Também é tentador acreditar que temos o poder de nos salvar a nós mesmos; e que, com habilidade e trabalho duro, podemos resolver todos os nossos problemas. Os noivos, com sua bela, aventurosa e muitas vezes divertida história, recorda-nos que o verdadeiro inimigo é Satanás e o único vitorioso é Jesus Cristo.
(James D. Conley é bispo da diocese de Lincoln, Nebraska, EUA. Este ensaio foi publicado no National Catholic Register, em 31 de maio de 2015)
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