A revolução sexual procurou desvincular os desejos humanos de seus limites naturais ou sociais, conseguindo com isso, sobretudo, destruir significamente a qualidade de sua realização. A era do anticoncepcional, do amor livre e da descontração moral operou uma enorme reviravolta antropológica nas relações humanas, principalmente naquilo que possui de mais íntimo. Contudo, como em todas as revoluções, o tiro acaba saindo pela culatra.
A facilidade desconcertante com a qual é encarada, hoje, a união de dois seres, revela bastante a insustentável mediocridade de nossa sociedade em relação a temas graves e sérios como os do amor, da fidelidade, da delicadeza do coração.
Despir o próprio ser não é qualquer coisa. Não fazemos amor como se faz um bolo ou um castelo de areia. Nele, há algo de celebratório; e é nisto que se encontra toda a sua majestade. É oportunidade de encontro, troca, comunhão.
Tanto nas coisas mais ordinárias do cotidiano, como no segredo de um relacionamento amoroso, com sua delicadeza e sua ternura, a pessoa se entrega de forma especial. Deixa-se arrebatar. E, ao final, principalmente, ela se eleva.
Sim: isto é coisa que se aprende. Mas não tecnicamente, através de um curso de educação sexual ou com objetos que apimentem o que deveria ser sublime por si mesmo. É para perder as almas que o amor se torna um produto de consumo.
Dá para imaginar o charmoso príncipe, sentado à margem de uma fonte, propondo a Cinderela uma foto de lembrança? O amor não é algo para uma noite, mas para sempre.
No dia 9 de fevereiro, em seu programa de entrevistas para a TV francesa LCP (canal da assembleia e do senado), a apresentadora Maïtena Biraben acolheu em seu divã as confidências de Brigitte Lahaie, antiga atriz de filmes para adultos nos anos 70 (atualmente, é animadora da Sud Radio, emissora jornalística). A ex-atriz se inquieta : “Penso, verdadeiramente, que se as pessoas fossem mais felizes na sua vida amorosa, a sociedade estaria melhor.”
Mas como a sociedade poderia melhorar, se está privada de toda transcendência, negando-se à vida amorosa as exigências próprias à sua sobrevivência? Amar seu cônjuge, amar seu país, amar sua família, amar seu Senhor impõem sacrifícios e exigem fidelidade.
O apetite pelo outro, a completude que se encontra na fusão dos corações, impõem um passo a passo, uma aproximação lenta e progressiva, uma descoberta prudencial.
É exatamente o contrário do despir-se ansiosamente, “o prematuro e irreprimível gozo, a ardência que dá ao corpo unicamente o contato de um outro corpo, o prazer desperdiçado e jogado fora”, como dizia Robert Brasillach [escritor francês da primeira metade do século XX], com inegável talento, em uma das mais belas páginas de seu romance As sete cores. O mundo erotizado não torna as pessoas mais felizes.
A obsessão sexual reduz o amor humano à sua condição terrestre quando, ao contrário, sua dimensão carnal deveria lhe dar asas.
A Festa de São Valentin [14 de fevereiro, dia dos namorados na França], longe de celebrar o amor verdadeiro, explora as paixões humanas para melhor tirar proveito delas e delas escarnecer.
Ora, a ironia do amor liberado é grave. Cinquenta anos depois de Maio de 68, na época de todos os possíveis e de todas as permissividades, a situação do amor na vida social, entre sucessivos escândalos e a proliferação dos celibatários, é decepcionante. Mais que aproveitar a vida sem barreiras, é tempo de compreender que se trata, antes de tudo, de amar sem limites. Amar até o esquecimento de si, fazendo de sua vida um dom e talvez, mesmo, um sacrifício. Tanto as coisas sublimes como a intimidade amorosa precisam de esforço, coragem, abandono. De paciência, sobretudo.
Como Roma não foi feita num só dia, o amor não pode ser produto de uma única noite. É trabalho para toda uma vida. Segundo São João da Cruz, é por esse trabalho que seremos julgados um dia.
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