Frequentemente sem propósito, em nossa linguagem cotidiana se aplicam a pessoas e acontecimentos expressões do tipo “isso é um castigo de Deus”, “é uma ira de Deus”.
E com relação à pandemia do coronavirus? Será aplicável? Será é um castigo de Deus, no sentido etimológico da palavra: castus, “puro” e ago, “fazer”, ou seja, tornar puro, purificar?
A verdade é que parecemos crianças postas de castigo com uma focinheira (é isso que lembra a máscara).
Mas por que é tão difícil assim aceitar que Deus castiga?
No entanto, desde a época dos gregos e dos romanos, chegando até o século passado, procissões e votos foram feitos para interromper castigos. Hoje, a palavra “castigo” suscita escândalos, mesmo entre os eclesiásticos, porque foi esquecido que, na origem da história do mundo (Adão e Eva), depois do amor vieram o pecado, a ira e o julgamento.
É verdade que, em Jesus Cristo, adoramos o mistério do amor divino que, com paciência e misericórdia, obtém a conversão do pecador; mas a ignorância, a peste, a fome, a guerra, o sofrimento, a morte revelam ao ser humano a sua condição de pecador e a consequência do castigo; enfim, Deus mostra um rosto que julga e que salva, como os salmos costumam invocar: “Mostra-nos Teu rosto e seremos salvos”.
Portanto, o castigo é um sinal do pecado, porque nos faz compreender que nos separamos de Deus (cf. Romanos 8:20); o castigo também é fruto do pecado; é a barreira oposta ao pecado e pode resultar na condenação de alguns e na conversão de outros (cf. Lucas 15, 14-20).
Cristo conheceu o castigo não por causa dos pecados que cometera, mas por causa dos pecados dos homens, que Ele tirou e levou consigo.
Portanto, o castigo é revelação divina! Quem não acolhe a graça da visita de Deus, colide com a santidade divina e com o próprio Deus (cf. Lucas 19, 41-44). Como diz o profeta: “Então sabereis que eu sou Javé” (Ezequiel 11,10; 15,7). E também Jesus: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.” (João 3:36).
O castigo, sendo revelação, é realizado pelo Verbo (cf. Sabedoria 18,14; Apocalipse 19,11-16). É em Jesus Cristo crucificado que ele assume sua verdadeira dimensão (cf. João 8, 28).
Cristo foi castigado em nosso lugar e para a nossa salvação.
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