[O texto a seguir trata das restrições à liberdade de expressão que ocorrem na França, mas se encaixa como luva para o Brasil, a Argentina, os Estados Unidos, a Itália, a Espanha, a Inglaterra, a Alemanha etc. É um filme que pode ser visto por todo o Ocidente, e não só; um grande concerto internacional, regido pelo mesmo maestro, que parece usar a Covid para acelerar a revolução globalista].
Anne-Sophie Chazaud acaba de publicar Liberté d’inexpression. Nouvelles formes de la censure contemporaine [Liberdade de inexpressão. Novas formas da censura contemporânea]. Ela desmonta a dominação geral das ferramentas de censura, agora que a liberdade de expressão vê seu campo reduzir-se a uma velocidade surpreendente: livros são rasgados em público, surgem petições para exigir a demissão de jornalistas, universidades vetam a entrada de certos intelectuais para debates, votam-se leis para coibir pretensas fake news… Poucas décadas depois da “proibição de proibição”, que caracterizou a Revolução de Maio de 68, a liberdade de expressão tornou-se alvo de atentados realmente preocupantes, na França.
Anne-Sophie Chazaud mostra que esse enfraquecimento [da liberdade de expressão] se deve a muitos fatores que, na maioria das vezes, longe de se oporem, se complementam. Liberalização e privatização do mercado da censura, catecismo politicamente correto que vai se tornando dominante, pudicícia pós-moderna fundada no paradigma anglo-saxão da “ofensa” vitimária, pressão islâmica à necessidade terrorista, intolerância dos dogmas neo-progressistas, visão enrijecida da História, grupos de pressão identitários ou sexuais etc.
A autora de Liberté d’inexpression, nouvelles formes de la censure contemporaine, assim decifra a genealogia da censura:
“Nesse caso, parece que três fenômenos principais se combinaram para formar uma formidável máquina infernal. A especificidade francesa está carregada, antes de tudo, por uma relação voluntariamente liberticida com a expressão, e isto por razões ideológicas, que encontram sua base histórica e sua legitimação tutelar na célebre fórmula revolucionária de Saint-Just: “Liberdade nenhuma aos inimigos de liberdade.” Assiste-se, por outro lado, a uma indiscutível privatização da censura, uma espécie de externalização da inquisição operada pelo Estado, que a entrega aos cuidados das novas ligas da virtude e da ação militante. Enfim, o contexto atual leva a uma instrumentalização da justiça para os fins da jihad judicial, sobre um fundo de ativismo islâmico. Esses vários fatores, quando associados, pesam muito e provocam um clima tenso, particularmente prejudicial a quem ainda tem em alta conta a liberdade”.
Anne-Sophie Chazaud oferece, nessa obra, um desmonte filosófico e jurídico das ferramentas dessa dominação.
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