O sofrimento, fartamente registrado nas obras literárias de todos os tempos e povos, não é consequência da impotência de Deus, como queriam os gnósticos, como também não é falta de racionalidade humana na condução dos fatos individuais ou históricos.

Só a Igreja, que tem ligação direta com o Espírito Santo, sabe das coisas. Para ela, o sofrimento é consequência inevitável do pecado. Foi pelas mãos do pecado que o mal penetrou no universo, que gemerá em dores de parto — a metáfora é de São Paulo — até o fim dos tempos. O sofrimento é o filho primogênito do Pecado Original.

Sempre necessitaremos de imagens para compreender algo desses mistérios: o mistério do sofrimento e o mistério da iniquidade, do qual brota o primeiro.

O homem, não contente com ser divinizado já em sua criação, feito à imagem e semelhança de Deus, quis e quer mais; quis e quer ser Deus. É como se essa terrível presunção humana, esse pecado dos pecados — o homem querer ser deus como Deus — exalasse um gás invisível e deletério que, desde o início da humanidade, se acumulasse na atmosfera natural e espiritual do mundo, contaminando indistintamente a todos, exceto duas pessoas: Cristo, Deus que se fez homem para nos salvar, e aquela doce nazarena — a Virgem Maria —, que é a escada pela qual o Senhor desceu até nós e pela qual poderemos subir ao Céu (na bela imagem de São Fulgêncio, contemporâneo de Santo Agostinho).

Essa poluição demoníaca, que começou com Adão, Eva e a serpente, é tão contagiosa, que impregna todo o universo material (como nós, também ele está sujeito à corrupção). Nosso pecado contagiou a mais distante estrela que há no cosmos, condenada a perder a combustão e deixar de existir.

A corrupção do meio ambiente, que estraga o espaço físico, é filha do nosso pecado. A corrupção genética, que degrada a nossa descendência, é filha do nosso pecado. Em aliança com o demônio, criamos as cobras que nos morderão, produzimos os nossos próprios inimigos, entre os quais o coronavírus, que tanto tem prejudicado o mundo e os trabalhos do mundo nos últimos meses.