O Papa Emérito Bento XVI escreveu um breve e afetuoso adeus a um amigo seu, um teólogo e monge cisterciense de 91 anos, que acaba de morrer.

A parte mais comovente são estas palavras: “Ele chegou agora ao outro mundo, onde estou certo de que muitos amigos já estão à sua espera. Espero poder juntar-me a eles em breve.”

“Espero poder juntar-me a eles em breve”, diz o Papa, mostrando assim um desejo de deixar este mundo para estar com Deus no céu, para sempre, e também com aqueles que para lá foram antes dele.

Este anseio do Paraíso tem o selo das palavras de São Paulo, na Carta aos Filipenses: “Para mim, a vida é Cristo, e é lucro morrer”. Ou as de Santa Teresa: “Vivo sem viver em mim mesmo, pois espero uma vida tão elevada que morro porque não morro”.

Os santos têm sempre os seus pés na terra, mas mantêm a cabeça no céu. Cristo não nos ensina a afastar-nos do mundo, como se o nosso objetivo fosse alcançar um nirvana de total indiferença por nossa própria dor ou pela dor de outras pessoas. Ele ensina-nos que devemos alimentar os famintos e vestir os nus, mas que tudo isto servirá para que um dia Ele nos diga: “Vinde, benditos do meu Pai”.

Sem a referência permanente à vida eterna, a moralidade cristã perde a sua força e torna-se insuportável. Basta ler as bem-aventuranças para perceber que, para Cristo, tudo chega à sua plenitude para além desta vida, porque é ali, no céu, que os pobres serão satisfeitos, os misericordiosos receberão misericórdia, e os perseguidos, por serem fiéis a Cristo, receberão a coroa da glória. As promessas serão cumpridas, se houver vida eterna; se não houver vida eterna, tudo terá sido um engano colossal. Mas, como S. Paulo também disse: há vida eterna, porque Cristo ressuscitou dos mortos.

Mas será que temos este anseio pelo céu? Será que a Igreja Católica de hoje leigos, padres e bispos —, acreditam, acreditamos na vida eterna? A minha impressão é que a grande maioria não a tem em mente, em sua vida quotidiana.

Alguns, incluindo uma boa parte da hierarquia, suprimiram da sua pregação — porque já a suprimiram da sua própria fé — a existência do inferno e do purgatório; e consideram de mau gosto falar sobre isso. Se se fala do céu, o que raramente se faz, passa-se a ideia de uma espécie de limbo nebuloso e indefinido, ao qual todos chegam sem grandes exigências.

A mensagem clara e dura de Cristo sobre o Juízo foi guardada no velho baú das coisas inúteis, sem perceber que, ao fazê-lo, o homem fica privado do estímulo para fazer o bem e evitar o mal, tal como um aluno ficaria privado do estímulo para estudar, se lhe fosse dito, no início do curso, que não precisaria de estudar, pois de qualquer forma lhe seria dada uma nota de aprovação.

Esta Igreja “boa samaritana” não conhece o homem e, com a melhor das intenções, causa-lhe muitos danos. Nem quer conhecer Deus, quando o que o Senhor diz é demasiado exigente. Que ninguém fale da cruz, que ninguém fale de sacrifício, que ninguém fale de esforço: estes parecem ser os slogans da nossa triste era.

É por isto que aquelas palavras do Papa Emérito são um presente, mostrando-nos onde devem ser postos os nossos corações. Atribuem a Lope de Vega alguns versos que serviram de luz a muitos católicos e os ajudaram a fazer o bem e a evitar o mal:

“A ciência mais acabada
É que o homem na graça acabe,
Pois que no final da estrada
Aquele que é salvo sabe,
E o que não é, sabe nada”.

Embora chegue um dia o momento do “finalmente!”, como Santa Teresa exclamou quando ao chegar a sua hora, continuamos a lidar com as coisas aqui. Por exemplo, as exatas palavras do Cardeal Müller, que nos recordou que os bispos são sucessores dos apóstolos e não delegados do Papa, e que aqueles que são, verdadeiramente, pastores do seu povo, não se submetem aos ditames do mundo, mas seguem o Senhor e oferecem, aos seus paroquianos, em plenitude, as palavras do Mestre: só Ele é o Salvador do mundo; só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Ansiamos pela hora do céu, confiando na misericórdia de Deus. Entretanto, pedimos ao Senhor que venha em breve para nos salvar, porque (como Ele disse a São Francisco) parece evidente que a Igreja, a Sua casa, ameaça ir à ruína.