Liberdade, fraternidade e igualdade não eram as únicas virtudes jacobinas. O patriotismo e o amor pela família também eram importantes: o solteirão inveterado era considerado inimigo da virtude.

Também o era o homem que deixasse de realizar trabalho útil e produtivo, ou que deixasse de fazer bons trabalhos. Considerava-se virtude o vestir-se com simplicidade, viver numa casa modesta, ser assíduo — é claro — na freqüência ao clube e na realização de outros deveres cívicos, ser corajoso e assíduo no trabalho que lhe fosse atribuído pela revolução.

Os sinais distintivos da virtude eram cabelos longos e a ausência de barba (as visitas ao barbeiro eram uma espécie de vício, assim como atenção exagerada à aparência). As barbas eram associadas ao ancien régime.

Não é difícil perceber, nisso, uma reconstrução do ideal clássico através das sociedades de artesãos e comerciantes, democraticamente inspirados.

Embota tivessem, obviamente, muito mais de Rousseau, nos clubes jacobinos sobrevivia algo de Aristóteles, ainda que com um poder cultural limitadíssimo.

Por quê? A verdadeira lição dos clubes jacobinos, e de seu declínio, é que não se pode pretender reinventar a moralidade na escala de uma nação inteira, quando o próprio jargão da moralidade, que se procura reinventar, é estranho, de um lado, para as vastas massas de pessoas comuns e, de outro, para a elite intelectual.

A tentativa de impor a moralidade pelo terror — que foi a solução preconizada por Saint-Just — é o expediente desesperado daqueles que já têm noção desse fato, mas não o admitem. É isso que gera o totalitarismo, e não o ideal da virtude pública.

(Alasdair MacIntyre, Depois da virtude. Bauru, EDUSC, 2001, cap. XVI, p. 398-9)