
Há alguns dias, o co-presidente do Sínodo alemão declarou que não permitirá que o processo de aplicação do que foi aprovado no Sínodo continue exigindo o acordo de dois terços dos bispos. Não que o veto episcopal tenha sido de grande utilidade, já que em apenas uma ocasião conseguiram travar um texto (foi a partir daí — e num exercício de pura ditadura — que decidiram modificar as regras e estabeleceram que a votação seria por braços erguidos, para que todos soubessem o que cada um estava votando).
A tímida oposição dos “corajosos” bispos alemães se desfez e, à excepção de um pequeno grupo, passaram a votar docilmente, a partir daí, com o que a maioria queria. Ou isso, ou esperavam-lhes represálias nas suas dioceses, se não mesmo denúncias por negócios escusos guardados nos armários. Agora, parece que a senhora Irma, a co-presidente, se cansou de ter de levantar o braço na hora de votar, ou considerou que isso é inestético e muito visível, e declarou que o direito de veto dos bispos vai acabar. Quem manda, manda.
Mas esta decisão, que deixa os bispos ainda mais desamparados na sua missão de governar a Igreja (e que muitos deles parecem aceitar de bom grado), não foi suficiente para o líder dos jovens católicos homossexuais, também ele participante no Sínodo e que, como a maior parte deles, trabalha — para não dizer o pior — para a Igreja com um salário generoso.
Este jovem (Lukas é o seu nome) anunciou que apostatou da Igreja, porque está desiludido com o que foi conquistado no Sínodo. Embora já não seja católico, continuará trabalhando na Igreja, na diocese de Münster, como um dos líderes da Juventude Católica Alemã.
É muito curioso o que acontece na Alemanha: quem apostata não pode pedir um funeral católico, mas desde que seja a favor da “nova Igreja” pode continuar a trabalhar — insisto que se trata de uma figura de estilo — e a receber um salário da Igreja a que já não pertence. O fato é que Lukas saiu batendo a porta, cheio de desilusão e de “impotência” — ele disse “impotência” —, e devemos presumir que ele quer dizer que não conseguiu as mudanças que procurava, e nada mais.
E o que acontecerá se a Sra. Irma, a co-presidente, não conseguir o que pretende? Será que se juntará a Lukas no seu caminho da apostasia? Muitos já chegaram à conclusão de que a Igreja Católica não aceitará as mudanças que eles pedem e por isto decidiram partir, desiludidos e cheios de amargura. De quem é a culpa? Deles, pois deviam saber que há coisas que não podem ser mudadas? Ou daqueles que os fizeram acreditar que as mudanças na Igreja eram possíveis com suficiente pressão mediática e votos?
O Sínodo, o alemão e qualquer outro, pode ter valor como exercício de escuta dos fiéis por parte da hierarquia, desde que esses fiéis representem a totalidade do povo de Deus e não um setor ideologizado e minoritário que se apoderou das fases iniciais do processo.
Mas mesmo que o que for aprovado, no final do processo sinodal, seja representativo das opiniões dos católicos praticantes, é imperativo que todos saibam que algumas coisas não serão mudadas, simplesmente porque não podem e não devem ser mudadas. Se isto não ficar claro desde o início, o processo de escuta pode tornar-se uma miragem de democracia, causando sérias frustrações a quem nele participou. Haverá quem siga o exemplo do jovem gay alemão Lukas e abandone a Igreja, enquanto outros se sentirão defraudados por terem sido levados a acreditar que o que não podia acontecer, aconteceria.
O que aconteceu, por exemplo, com o pedido de sacerdócio para homens casados feito pelo Sínodo da Amazônia? Pois bem, o mesmo acontecerá com o pedido de mulheres sacerdotes ou de comunhão para os não casados na Igreja. Se isso fosse aceito, talvez Lukas deixasse de se sentir impotente e regressasse à Igreja, mas muitos outros sairiam, e o variam cheios de dor, porque teriam sido obrigados a escolher entre seguir Cristo e seguir aquilo que, até esse momento, era a Igreja de Cristo.
Só Deus sabe o sofrimento que essa possibilidade já está causando. Todos os dias peço ao Senhor que perdoe aqueles que o causam. Tenho medo de pensar no que os espera, quando forem julgados por Deus por terem semeado tanta confusão e feito sofrer tantos outros.
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