Há algumas semanas, comentei as palavras do bispo de Essen, na Alemanha, dirigidas àqueles de nós que querem ser fiéis à Palavra de Deus e à Tradição.

Ele disse que deveríamos pensar no que faríamos, quando as teses do Sínodo Alemão se tornassem o ensinamento oficial da Igreja. Então, disse ele, deveríamos pensar em deixar a Igreja como hereges ou aceitar essas mudanças.

Estão tão convencidos de que não há retorno, que nesta semana o presidente da conferência dos bispos alemães, o bispo Batzing, reiterou que na maioria das dioceses alemãs, incluindo a sua, haverá bênçãos a casais do mesmo sexo. Disse, ainda, que o seu papel de bispo o impede de deixar a Igreja se tornar uma seita, o que, segundo ele, aconteceria se se tornasse uma “pequena e seleta comunidade isolada em nossa sociedade, vivendo a sua própria vida e desligada das grandes necessidades sociais”.

Por outras palavras, está nos dizendo para fazermos as malas, porque quando eles vencerem nos obrigarão a sair da Igreja, se não quisermos aceitar as mudanças (os que não quiserem aceitar essas mudanças se tornarão uma pequena seita isolada…).

A maioria dos bispos alemães — e, com eles, muitos outros, além de uma boa parte do clero religioso e diocesano — estão convencidos de que as teses agora defendidas pelo Sínodo alemão irão prevalecer, embora já estejam admitindo que não seja neste pontificado. No entanto, parecem ter esquecido que a Igreja começou sendo aquilo que agora eles desprezam: “Uma pequena e seleta comunidade isolada da sociedade, vivendo a sua própria vida”.

No contexto do mundo pagão, e até mesmo do mundo judaico, os cristãos realizaram uma dupla dinâmica: por um lado, a fidelidade à mensagem recebida, mesmo que tivessem de pagar o preço da perseguição; por outro lado, a abertura ao mundo que os rodeava, não para serem assimilados por ele, mas para o converterem. Os primeiros cristãos tinham muito claro que eram o sal da terra e a luz do mundo, sem se importarem de ser uma minoria — uma minoria perseguida e, durante muitos anos, em vias de extinção, pois não davam tanta importância à sua pequenez numérica como à sua fidelidade à mensagem de Cristo.

Assim, se Monsenhor Batzing afirma, agora, que a sua consciência de bispo o impede de ser uma minoria que não concorda com o que o mundo exige, está menosprezando essas primeiras comunidades cristãs que, apesar da perseguição, se espalharam por todo o Império Romano.

Está também insinuando que os bispos mártires — como Santo Inácio de Antioquia ou Santo Ireneu de Lion, ou os próprios apóstolos — não eram bons bispos, porque não cederam ao mundo e estavam determinados a seguir Jesus Cristo com todas as consequências.

Para os católico-protestantes alemães, nós somos uma seita que deve ser expulsa da verdadeira Igreja, que é a deles. No entanto, pouco restará da Igreja que eles consideram ser a verdadeira Igreja Católica, porque, segundo os números oficiais da diocese de Essen, em 2040 haverá menos de 30 padres na diocese (atualmente, apenas 2,4% dos católicos vão à missa, o que significa menos de 17.000 pessoas em toda a diocese).

Uma diocese na qual 97,6% dos católicos não vão à missa, não deveria ser considerada uma “minoria seleta”? No entanto, isto aconteceu-lhes porque o bispo e muitos dos seus poucos padres escolheram estar em comunhão com o mundo, em vez de com Cristo. Apesar disto, não consideram que seja essa a causa do seu colapso, mas atrevem-se a dizer que aqueles que querem ser fiéis ao Senhor se tornarão uma minoria. Eles, que já são uma minoria insignificante, precisamente porque se adaptaram ao mundo, têm a audácia de dizer que são o modelo a seguir para não serem uma minoria.

Mas que minoria pode ser diferente dessa que eles já são? Chegará o momento em que não restará nada deles, embora o último que restar continue insistindo que eles são o futuro e que, se não os ouvirem, os outros desaparecerão.

Cegou-os a arrogância, o sentimento de superioridade, a convicção de que são os melhores e de que são eles que devem definir o rumo da Igreja. Não veem a sua própria realidade, que é cada vez mais triste, nem enxergam que aqueles que não seguem as suas ordens estão lidando muito melhor com a crise da Igreja. Um velho ditado diz que Deus cega aqueles que querem se perder. Neste caso, são eles que se tornaram guias voluntariamente cegos.