A notícia desta semana, sem dúvida, foi a tomada do Congresso dos EUA por uma multidão de apoiadores do ainda Presidente Trump. Associo-me à condenação deste ato violento feita pela Conferência Episcopal dos EUA, especialmente por um dos bispos mais conservadores e pró-vida dos Estados Unidos, o Arcebispo Cordileone, de São Francisco.
Tendo dito isto — e, repito, deixando claro que o que aconteceu em Washington não tem qualquer justificação —, creio que pelo menos mais duas coisas devem ser ditas.
A primeira é que a violência deve ser condenada por todos, seja quem for que a pratique. Parte do que aconteceu deve-se ao fato de muitas pessoas estarem fartas da suposta superioridade moral da esquerda, segundo a qual tudo o que fazem é bem feito e tudo o que os seus opositores políticos fazem é mal feito. Isto, que tem sido encorajado pela maioria dos meios de comunicação, tornou-se uma ditadura do pensamento, onde o que é politicamente correto é decidido por uns e os outros têm de o aceitar, se não quiserem assumir a cadeia de insultos e desqualificações permanentes que vêm daquela esquerda, que é o mestre absoluto do pensamento.
Por exemplo: a agressão ao Congresso é tachada de má, enquanto a violência do movimento “Black lives matter” (que foi desencadeada pela morte de um cidadão afro-americano por um policial), não é. Se o policial agiu mal, deve ser julgado e condenado, mas isso não justifica a violência.
Outro exemplo: quando os combatentes da independência catalã declararam ilegalmente a sua independência, em 2017, a polícia teve de suportar ataques muito violentos, na sequência da intervenção da autonomia catalã por parte do governo legítimo de Espanha, mas no final foi a polícia que foi apresentada como culpada. Não é verdade que o uso da violência seja mau apenas quando é decidido por aqueles que controlam o que é politicamente correto. Esta é precisamente uma das causas que geram tal violência.
Outra coisa: pensar que o que aconteceu, nos Estados Unidos, se deve às ações irresponsáveis de um presidente, é simplificar muito as coisas. A realidade é que o país está dividido e que, de ambos os lados, os temperamentos estão exacerbados. Aqueles que agrediram o Congresso são uma minoria radical, mas a maioria dos que votaram em Trump, embora desaprovando o uso da violência, não se sentem representados pelos novos governantes.
Talvez isso seja inevitável, mas é precisamente por isso que esses novos governantes deveriam ter, como tarefa principal, unir todo o país, e não impor o seu programa, com base em sua maioria, para aprovar leis que a outra metade do país rejeita.
Por exemplo: a maioria democrata, nesse mesmo Congresso, já propôs que os termos “pai”, “mãe”, “filho” e “filha” fossem eliminados, além de propor também a chamada “Lei da Igualdade”, que penaliza aqueles que discordam da ideologia do gênero. Governar para uns, contra outros, não é apropriado para um bom governante. É adicionar combustível ao fogo e depois reclamar. Não há justificação para a violência, mas é responsabilidade de todos evitar as causas de tal violência. Responsabilidade especialmente daqueles que governam, a começar por Trump, mas não apenas dele.
E isto também é verdade para a Igreja. O testamento de Jesus, registrado no Evangelho de São João e proclamado após a Última Ceia, é um pedido ao Pai: que todos os cristãos estejam unidos, para que o mundo possa acreditar. A busca da unidade é a grande tarefa de cada governante, político ou religioso, porque (e estas são também palavras de Cristo) um Reino em guerra consigo mesmo vai arruinar-se.
E já está ruindo, casa após casa.
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