Nesta semana, li a homilia proferida por um cisterciense austríaco, Padre Walnner, que se tornou viral, na internet, por ter dito que o cristianismo, tal como se apresenta hoje no Ocidente, não merece continuar existindo. Walnner lamentou o que está acontecendo no Afeganistão. Mas não foi complacente com um Ocidente que não só não conseguiu estabelecer a democracia naquele país, como nem sequer foi capaz de proteger aqueles que com ele colaboraram. Acima de tudo, apontou para o tipo de cristianismo que irão encontrar os milhares de refugiados, que conseguiram escapar ao reinado de terror dos Talibãs.

Walnner não hesitou em afirmar que aquilo que os refugiados irão encontrar já não é um cristianismo vivo, mas um cristianismo morto, incapaz de atrair alguém, e que já nem sequer tenta atrair ninguém. Embora muitos vestígios cristãos ainda aparentemente persistam na Europa e no Ocidente em geral, a apostasia é tal que as velhas estruturas, que ainda permanecem de pé, não conseguem esconder a ruína geral. A prática religiosa, já mínima antes da epidemia, é agora negligenciável em muitos lugares.

Como resultado, a capacidade de influenciar para humanizar a sociedade, e impedi-la de se destruir a si própria, está desaparecendo rapidamente. Por exemplo, num país tão católico, como a Colômbia, o seu Supremo Tribunal declarou legal a união matrimonial e patrimonial de fato entre um adolescente, a partir dos 14 anos de idade, e um adulto, sem sequer necessitar da autorização dos pais. Permite-se que esta união, que inclui relações sexuais, seja livremente celebrada.

Mas será que crianças de 14 anos — a quem o Supremo Tribunal chama de “adultos menores” — são de fato psicologicamente capazes de entrar numa parceria com um adulto, mesmo sem o consentimento dos pais? Não será isto uma porta aberta a certo tipo de pederastia? Além disso, por ser uma mera “relação sentimental”, mesmo que envolva sexo, não se pode evitar que, em muitos casos, esta fórmula seja utilizada para justificar a prostituição temporária com menores, que podem ser persuadidos, com dinheiro, a assinar um termo de consentimento que tornaria a relação legal.

E este é apenas um aspecto da decadência do Ocidente. Relatórios das próprias Nações Unidas, e investigações de meios de comunicação como o New York Times e a BBC, tornaram público o abuso de crianças praticado por muitos militares ocidentais enviados a países como o Afeganistão. O comércio de crianças, ainda mais do que o de mocinhas, tem sido realizado com total impunidade, sob o olhar indiferente daqueles que tinham ido ao país para prestar ajuda.

Uma Igreja secularizada, num Ocidente secularizado, não pode ser atrativa mesmo para aqueles que fogem de uma marca forma radical do Islão, como a dos Talibãs. É por isso que a pergunta do Padre Walnner é pertinente, embora ele tenha feito uma afirmação clara: “Não temos o direito de continuar existindo”. Dou à pergunta uma resposta precedida de uma condição: “Sim, mas só temos esse direito se formos capazes de ser fiéis a Cristo, não importa se somos uma minoria; e se não renunciarmos a essa fidelidade, mesmo que sejamos perseguidos”.

Uma Igreja que não é fiel a Cristo não tem o direito de continuar existindo. Não é fermento na massa, luz na escuridão e sal da terra. E, como o Senhor disse, se o sal se tornar insípido só serve para ser atirado ao chão e pisado. O processo de ser atirado ao chão, e pisado sob os pés, está aumentando a cada dia, precisamente porque a nossa fidelidade a Deus está diminuindo.